Thursday, January 20, 2011

O Enfermeiro

     "Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá–lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. Não posso mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um atordoamento, um delírio vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escutava umas vozes surdas. Os gritos da vítima, antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para onde quer que me voltasse, aparecia recortado de convulsões. Não creia que esteja fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me bradavam: assassino! assassino!" (Machado de Assis, O Enfermeiro, 3)

     Até hoje na minha vida, eu nunca li um parágrafo que mostra mais medo que esse. É claro para o leitor ver que um medo intenso entrou na coração do Procópio quando ele ficou sabendo que ele tinha matado o velho. Todos nós já tivemos uma experiência comparável a essa. Talvez você esteja se perguntando agora o seguinte, “Bom, eu nunca matei ninguém, com certeza nunca tive uma experiência assim." Más, deixe-me explicar meu ponto de vista. Todos nós cometemos erros, não é? Ninguém nesse mundo é perfeito, isso é um fato. Então, lembra aquele medo que teve quando você era criança e pegou o biscoito que sua mãe mandou que não pegasse? Ou talvez quando a polícia te multou no ato de andar de carro mais rápido do que a lei permitiu? Esse medo de saber que fez algo errado e temer as consequências de sua ação é algo que todos os seres humanos têm que enfrentar, geralmente todos os dias. É por isso que eu escolhi esse parágrafo para discutir essa semana. Nós sentimos pesar pelo Procópio, e até queríamos ajudá-lo em sua situação, más obviamente não podemos.
   

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